quarta-feira, 20 de março de 2024

BIOGRAFIA DO ORVALHO (POEMA DE MANOEL DE BARROS)

 A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre

portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que

compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, 

que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. 

Perdoai.

Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.


BARROS, Manoel de. Retrato do artista quando coisa, 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

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