domingo, 24 de agosto de 2014

FOLCLORE é também resgatar os REMÉDIOS CASEIROS: tratamento com plantas, as chamadas ervas medicinais. Tratamento alternativo.

Fui criada por meu avô que era adepto de tratamento natural. Era um curioso homeopata. Meu pai é médico, mas também não descarta o auxílio do tratamento, porque sabemos o quanto é usado de química nos medicamentos; no entanto, ele esclarece aos pacientes que não devem se automedicar, pois os sintomas são semelhantes, aí quando se pensa que é uma coisa pode ser outra completamente diferente. Devemos, então, visitar regularmente o médico, seguir as recomendações deste, no intuito de prevenir as doenças e tomar os medicamentos prescritos, lembrando que nada impede de usar as ervas como paliativo, porém, tudo deve ser conversado com o médico. Ou seja, o paciente deve ter o profissional da área de saúde como um amigo e ficar à vontade para pedir-lhe orientação, pois um tratamento não anula o mérito do outro.

Eu achei interessante divulgar, porque gosto de resgatar a cultura popular. Eu aprendi muito com os lambedores e garrafadas, porque há 50 anos era difícil vir um médico para o interior, e Deus deu a missão linda ao meu avô Manoel Lucas de Miranda (cujo nome do hospital do município de Guamaré/RN foi dado em sua homenagem). Ele aproveitava o que estava ao seu alcance e orientava as pessoas, paralelo ao remédio que ele aprendeu com os livros de medicina, e nos casos mais graves, indicava o remédio, pois o tratamento natural é lento, leva mais tempo. Ele lia muito, era autodidata. 

Meu pai, Luiz Miranda, também teve seu nome atribuído a uma Unidade de Saúde da Família em João Câmara/RN. Fico feliz ao ver seu trabalho também no interior. São duas vidas, duas épocas, infinitas doenças, mas a missão é uma só. E assim, aprendendo com eles, consigo fazer uso da homeopatia e da alopatia. Encontro o equilíbrio entre os dois métodos e bato palmas para esses dois profissionais que sempre vestiram a camisa em defesa dos necessitados e o exemplo deles serve de inspiração a outros que adotarem o mesmo estilo. Na verdade, o maior segredo está em sempre terem trabalhado com amor "junto ao povo, pelo povo e para o povo", sentindo que precisavam andar a segunda milha.

Vejamos o que consegui lembrar e coletar entre um pequeno grupo de 7 (sete) pessoas que visitei no distrito de Lagoa Doce-Guamaré/RN:
Chá de boldo ou de macela: para intestino constipado, ajuda na digestão;
Chá de camomila: calmante e serve para fazer cataplasma para braço com edema que se forma em consequência de erisipela;
Chá de carqueja ou do olho da goiabeira: para suspender a diarreia;
Chá Verde: faz emagrecer;
Chá de quebra-pedra: para os rins;

Arnica: para quem sofreu uma queda; ajuda a espalhar o sangue;
Canelinha: estalecido (resfriado, nariz congestionado);
Eucalipto: inalação para nariz congestionado;
Mastruz ou mastruço: garganta;
Babosa: para hidratar o cabelo e passar em joelho para aliviar a dor muscular;
Arruda: tratamento de ouvido;
Romã: garganta, ovário e útero;
Coroa-de-frade: coqueluche;
Hortelã da folha miúda e da folha larga: garganta e tempero e ornamentação de pratos da culinária;
Erva-doce: calmante;
Erva-cidreira: febre;
Sena: gripe, cansaço, asma;
Sabugueiro;
Cajueiro roxo: usado em garrafada;
Chanana(Xanana): usada em lambedor (melhora a imunidade, bronquite, diarreia, diabetes, asma, febre, gripe, dor de dente, reumatismo);
Ipecacuanha(ou hipepaconha): usado em garrafada;
Jatobá: usado em lambedor;
Angico: usado em lambedor;
Limão com mel e alho: para a garganta (cortar resfriado); 
Massa de batata de purga com chá de sena: para cansaço, asma;
Jucá - a água para lavagem de ferimento é usada como cicatrizante;
Óleo de coco: laxante e cicatrizante
Óleo de girassol: cicatrizante;

Lambedor da casca do abacaxi: expectorante;
Lambedor de tamarindo: expectorante;
Lambedor de cebola: expectorante;
Lambedor de manga verde: expectorante;
Garrafada feita com casca do cumaru, urtiga branca, cabelo de nego, cupim do cajueiro, corama, romã, mastruz, quina-quina, cajueiro roxo, quixabeira branca, ameixa, imburana, aroeira: para tratamento da garganta, ovário, útero;

E ainda há tratamento com frutas e legumes:
Maçã: para melhorar a voz;
Maçã com casca é laxante e sem casca ou casca cozida é para suspender a diarreia;
Cenoura crua: para azia;
Batatinha inglesa na testa: para enxaqueca;
Chuchu passado no liquidificador só com água: para hipertensão;
Alface passado no liquidificador só com água: calmante e desintoxica a pele de quem está com alguma alergia;
Berinjela com laranja: reduzir o colesterol;
Cataplasma feito com a pele de tomate e azeite de oliva: para expulsar o carnegão de furúnculo;

Em Guamaré havia uma senhora chamada Benvinda Nunes Teixeira. Já faleceu e é o nome da escola a qual trabalho. Ela fazia lambedores e garrafadas para vender. Uma filha sua chamada Isabel (mais conhecida por Bebesinha) aprendeu a fazer, e eu já tive o prazer de consumir, assim como também já saboreei feita por minha avó Luiza Cavalcante de Miranda e tias. Pode ser usado açúcar mascavo nas receitas, a fim de deixar na forma mais natural possível.

Uma observação deve ser feita: todo cuidado é pouco com as cascas, folhas e raízes, porque podem apresentar sujeira, uma vez que muitos desses produtos são vendidos em feira, e o transporte, deslocamento e manuseio acabam sujando-as, portanto, devem ser bem higienizadas antes de serem consumidas.
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E você, leitor, deve estar pensando: _ O que isso tudo tem a ver com folclore? É justamente pelo fato dessa tradição se estender de pai para filho, e nós resgatarmos com a oralidade, não permitindo que esses benefícios da natureza sejam esquecidos.

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