O sofrimento não tem nenhum
valor.
Ilumina
trecho algum
de
tua carne escura
(nem
mesmo o que iluminaria
a
lembrança ou a ilusão
de
uma alegria).
Sofres
tu, sofre
um
cachorro ferido, um inseto
que
o inseticida envenena.
Será
maior a tua dor
que
a daquele gato que viste
a
espinha quebrada a pau
arrastando-se
a berrar pela sarjeta
sem
ao menos poder morrer?
A
justiça é moral, a injustiça
não.
A dor te iguala a ratos e baratas
que
também de dentro dos esgotos
espiam
o sol
e
no seu corpo nojento
de
entre fezes
querem
estar contentes.
Ferreira
Gullar, “Na vertigem do dia”. In: Toda poesia. 11 ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2001.
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