quarta-feira, 13 de agosto de 2014

APROXIMA-SE 20 DE AGOSTO: ANIVERSÁRIO DA COLONIZAÇÃO DE GUAMARÉ-RN

Eu moro em um município do Estado do Rio Grande do Norte. É uma cidade muito visada, economicamente, por comerciantes, trabalhadores da área petrolífera, políticos e cidadãos comuns que pensam em encontrar emprego e se estabelecerem com facilidade. As pessoas dizem que minha cidade é rica, mas eu sei que mora muita gente pobre. Estou falando de Guamaré, um lugar que já foi rico em termo de petróleo. Por aqui passaram muitas pessoas em 40 anos em função do mercado de trabalho, vindas de várias partes do Brasil. Eu acompanhei o surgimento de muitas casas, ruas e de filhos que são frutos do relacionamento dessa população flutuante; alguns tiveram o nome do pai em seu registro, outros não.

Esta é a parte mais triste da história da minha cidade. Eu sou feita de carne e osso e não de petróleo. Eu sou gente. Há quem diga que fulano de tal é “filho do duto”. E para completar minha revolta, agora temos a energia eólica, daí falam que futuramente vão dizer que nasceu uma geração de “filhos do vento”, mas esquecem que no Brasil houve a Copa do Mundo de 2014, quando vários estrangeiros passaram por nosso país. Então, em vez de perderem tempo com comentários, deveriam estar ajudando a minha cidade ser melhor. Já nasceram muitos filhos de gringos nas cidades grandes, e por que só falam mal das pequenas cidades?  Se é filho de italiano nascido em São Paulo no século XIX ninguém diz nada, é chique. Se é filho de japonês nascido em São Paulo no século XX, também. Aceitam sem criticar por São Paulo ser a maior cidade do país? Daqui a alguns anos dirão que nasceram “os filhos da bola ou das arenas”. E o que é pior: não terão mais nome de Severino, Manoel, José, Joaquim, Francisco ou João. Serão nomes difíceis.

Hoje, por exemplo, foi aula sobre os estrangeiros que estiveram na capital do meu Estado durante a II Guerra Mundial. A população aumentou com os filhos de norte-americanos, mas quando o assunto se dá no interior as pessoas falam mais. Por isso, fiquei triste quando fui contar uma história intitulada "Se coisas fossem mães", da escritora Silvia Orthof, para umas crianças, e um menino gritou: _ Eu tenho mãe, mas não sei quem é meu pai. Houve silêncio. Aquilo me doeu. Os coleguinhas olharam para ele, e eu ligeiramente contornei a situação. Não entrei em detalhes, mas talvez não tenha o nome do pai reconhecido no documento. E não é a primeira vez que me deparo em sala de aula como professora, identificando a mesma situação, mudando apenas de nome ou de endereço.

Eu tenho sentimentos, faz uma semana que se deu o fato, não esqueci aquela voz infantil de uns 9 ou 10 anos dizendo: _ Eu não sei quem é meu pai. Então, escolhi me expressar por meio de uma crônica e aqui estou. Eu amo este lugar, pois no interior é mais fácil de conhecer pessoas e fazer amizade, diferente da capital. Aqui é tranquilo, lá é muita correria. Também há muita coisa linda de se ver. Nós mantemos as tradições, as raízes da nossa gente. Temos tempo de olhar o sol, a lua, as dunas, as garças, um marzão gratuito (enquanto muitos constroem piscina).

Eu espero que um dia não distante encerrem-se as diferenças e que as pessoas valorizem mais o nosso petróleo, o nosso vento e o nosso povo. E que esse instante o qual estou escrevendo seja um marco comemorativo, onde eu possa dizer que minha cidade é a maior do mundo porque não faz distinção e valoriza cada um sem precisar saber quem é o pai. Com isso, quero que meu filho tenha orgulho de ser interiorano, pois este cantinho foi quem me ensinou a viver, a não ter vergonha do sotaque pesado e a falar de coração das minhas origens. Tenho tentado convencê-lo disso.

Foi uma colonização imposta que sucumbiu a cultura do nativo. Querem um exemplo? Onde foi parar o tupi-guarani falado no Brasil? Até hoje, valoriza-se mais o que é de fora... triste realidade desse país! O Brasil também perdeu sua identidade. Quem é seu pai? Quem o adota hoje?

Essa é minha Guamaré. Que ninguém se sinta órfão nesta perfeita combinação de pai e filho!

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