*Meu assunto inicial para o texto da semana seria a água, quer dizer, a falta dela e todo fuzuê que isso tem causado em nosso país. Mas ontem, ao visitar minha vozinha de quase noventa anos, fui tomado pelo desejo, quase que incontrolável, de falar sobre elas, as avós.
Se existem três coisas que deveriam ser eternas, essas são: o cochilo após o toque do despertador, a raspa da panela do brigadeiro e as avós. Quer mais um pedaço de bolo, meu querido? Obrigado, mas já tô cheio. Mas, meu filho, cê tá tão magrinho, coma. Engraçado, eu tenho quase noventa quilos e para ela eu ainda estou “magrinho”. Acho que é justamente nesse ponto que está a graça das avós. Esse cuidado. Esse carinho que cheira àquele perfume antigo que vinha no vidrinho, que as torna ainda mais perfeitas. Lembro-me de quando ela ia me buscar escola e na volta sempre comprava um churros. As vezes até dois. No capricho e com recheio especial. Me dá 1 real? Ela nunca perguntou para que era. Jamais titubeou em me dar alguns trocados para comprar baganas na mercearia da esquina – bons tempos em que 1 real dava para comprar muita coisa. Eu tenho a sorte de ter ambas as avós vivas até hoje. Na verdade, tenho a sorte de ter uma terceira avó, tia-avó, com quase cem anos, ainda lúcida, e uma bisavó com mais de cem anos – que por sinal, fará aniversário esse mês. Amor de vó nunca me faltou. E espero que nunca falte. Sabe, não sou católico mas acho que todas as avós do mundo deveriam ser canonizadas. Sério. Deveríamos fazer templos em homenagem à elas. Ao invés da Gioconda, Da Vinci deveria ter pintado sua avó. Ao invés de multiplicar pães, Jesus deveria ter multiplicado a cocada da vó Francina. Sua benção, vó. Deus te abençoe, te dê juízo e saúde. Sou grato, aliás, todos deveríamos ser gratos por elas terem carregado, por nove meses, as pessoas mais importantes de nossas vidas. Deveríamos ser gratos por terem escondido àquele vaso que quebramos ao jogar bola na sala, só para que seu pai não brigasse com você. Deveríamos ser gratos por terem costurado sua camiseta rasgada ou por ter feito aquela bola de meia para você brincar. Na verdade. Na mais pura verdade. Deveríamos ser gratos pelo simples fato delas existirem. Crendo em Deus ou não, as avós são o que há de mais divino na terra e, por isso, deveriam ser eternas. Nem que fosse apenas em nós.
Segunda-feira, 09 de fevereiro de 2015 - 15:12
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