quarta-feira, 10 de agosto de 2016

REMINISCÊNCIAS

Eu sinto falta do colo da minha mãe. Ela narrava sobre seu tempo, que para mim era tão distante. Hoje, narro para o meu filho, e parece que tudo aconteceu ontem. Ela por sua vez também se lembrava das histórias contadas por sua mãe, e dizia: parece que estou vendo a casa, o rio, o papagaio. Eu digo: parece que estou vendo a casa, o rio, os periquitos. O seu rio era o Assu; o meu era o Aratuá. 

Eu colecionava selos, chaveiros, moedas, figurinhas e amigos. Ali era uma infância feliz! Hoje me restam os amigos há quilômetros de distância, mas bem vivos na memória. Meus amigos eram reais; hoje, são mais virtuais.

Eu aguardava o carteiro chegar para me entregar cartas; hoje, ele traz faturas para eu pagar.

Eu me contentava com doce goiabada, guaraná, pipoca e biscoito cream cracker; hoje, as crianças berram para lanchar no shopping, batata frita com coca-cola, ou pipoca feita em microondas em casa mesmo.

Era tão gostoso lembrar da data de aniversário dos familiares e amigos; hoje não se faz esforço, pois o Facebook e a agenda do celular lembram a algumas pessoas.

Antes se dizia bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado(a), licença; hoje, enviam emoticons, carinhas para substituir as palavras.

Eu possuía bonecas, brincava de amarelinha, ciranda-cirandinha, Pai Francisco entrou na roda...

Eu era feliz e não sabia.

Eu fazia esforço para saber qual era o dia da semana, do mês; hoje, basta olhar para o celular.

Tomei leite direto da vaquinha, suco natural e bastante água de coco; depois é que veio o refrigerante, o corante.

Lembro da primeira professora; agora os alunos falam assim: a professora de Português veio? E a de História? Nem memorizam o nome do professor.

As crianças e os adolescentes temiam a Deus, aos pais e à polícia; hoje desafiam qualquer autoridade, faltando com o respeito. Encaram, destratam, desacatam... e não se entregam.

Onde ficou meu pirulito Zorro, minha bala Soft, minha balinha Xaxá de banana, minha panelinha de barro?

Estou no interior, literalmente falando, e sentindo saudades no interior, que só Deus pode sondar. 

Começaria tudo de novo, daquela forma: era uma vez uma menina sonhadora que contava estrelas, conchinhas, fazia castelinho na areia e achava que demoraria a crescer, a casar, a ter filho e profissão - aí, dormiu, dormiu, dormiu, quando viu - completou meio século, e não quer acordar desse sonho porque lá tem muita alegria, muita paz e muito amor, nada de violência.

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