A vida é feita de escolhas.
Esta é uma das poucas certezas da vida, bem como sabemos que um dia vamos
deixar a vida terrena.
Não escolhemos nascer. Não
optamos em nos tornar crianças, adolescentes ou idosos, mas são etapas que necessitamos
cumprir. Não há como escaparmos dessa condição.
Aí, crescemos ouvindo
familiares e amigos perguntando: _ O que você vai ser quando crescer? Até que
um dia a “ficha cai”, e chega a hora de decidirmos.
Antigamente se fazia teste vocacional nas escolas. Os pais ofereciam aos filhos opções do tipo: ser engenheiro, médico,
advogado, militar, professor, freira ou padre, porque sonharam com isso e investiram
na carreira deles. Alguns, em se tratando de padre e freira, seguiram mais como
promessa feita a Deus pelos pais, quando pediam que lhe desse um filho, em não
se acharem férteis ou quando o filho sobrevivia, pois muitas crianças brasileiras
morriam na hora do parto, bem como por motivo de doença comum na infância ou de
desnutrição, antes de completar 1(um) ano de vida.
Outra geração seguiu
determinada profissão, porque não tinha dúvida que era isso que queria para si.
Era por amor mesmo. Porém, hoje, eu sinto que as pessoas escolhem na maioria
das vezes, em se tratando do curso que o momento econômico lhes proporciona,
por ser perto de casa e trazer vantagens financeiras que não exigem
aperfeiçoamento, e mais ainda, por ter a vaga garantida por seu padrinho
político quando terminar o curso.
De uma forma ou de outra,
enfrentam o dilema de se questionar: vou ser o quê? Tempos atrás se podia sonhar
com aposentadoria tranquila. Quem sabe, um dia, comprar uma casa com piscina,
um sítio, uma casa na praia, um carro, um cavalo ou adquirir outro patrimônio, ter uma
conta “gorda”!
Eu fui da geração do
vestibular, da época que ter nível superior era ganhar numa loteria, pois era
privilégio de poucos. Era difícil a luta pela sobrevivência na cidade grande.
Ser do interior era como se tivesse vindo de outro planeta. Morar na capital
gerava muitas despesas. Imagine tudo isso na década de 80, quando o Brasil já
era conhecido como país subdesenvolvido! Era isso que nos ensinavam nas aulas de
Geografia. E agora eu vejo, com certa maturidade, como o Brasil era rico e sua
riqueza era mal distribuída, pois levou décadas para falir. Gestores engordaram
seu bolso e deixaram de investir no povo, seu maior patrimônio. Daí veio o
atraso cultural.
Agora, as universidades vêm
para o interior, há cursos universitários também a distância; o aluno tem
ônibus escolar que lhe deixa na porteira do sítio. Livros didáticos e
paradidáticos à disposição, e com tecnologia de fácil acesso.
Mas, onde ficou o sonho de
ter uma profissão? Acredito que “muitos pais prepararam os filhos para ser apenas
herdeiros”; expressão esta abordada pelo escritor Augusto Cury em um dos seus
livros. Portanto, o que devo esperar de filhos que não suaram a camisa, que não
apanharam ônibus lotado na capital, não estagiaram? Eu enfrentei essa realidade,
por isso, valorizo o meu trabalho e minha profissão de professora, pois sei o
que enfrentei. Meu pai, que se tornou médico na década de 70, também vivenciou
a dificuldade.
Eu sei que valeu a pena ser
estudante brasileiro na década de 70 a 90. Os jovens desse tempo tinham sonhos
e neles persistiam. O que mudou com a informática? Revolucionou a vida no
sentido de trazer conforto para dentro de casa, trouxe agilidade no raciocínio,
mas o profissional ficou insensível. Há processos seletivos que exigem apenas
títulos. E a prática? Alguém ficará de fora; fazer o quê? Não se preparou.
A máquina faz tudo para o
homem. Ele praticamente só aperta o botão. E as facilidades do mercado estão
aí: cheque especial, cartão de crédito, empréstimo, e vamos consumir! Mas, como tem sido o investimento no lado
profissional? Quem é o povo que vai consumir?
Eu não culpo pais e filhos.
Eu culpo o sistema excludente, que criava cursos profissionalizantes ou de nível
superior, no entanto, não gerava empregos. Preocupou-se unicamente em desenvolver
política pública assistencialista. E vai de mal a pior, pois quem vai às ruas e
protesta, logo mais não terá representantes para dar continuidade à luta, às
reivindicações.
E, quais os cursos mais procurados
atualmente? Direito, Informática, Odontologia, Nutrição, Serviço Social, Turismo,
Publicidade, Pedagogia, Estética, Psicologia, Técnico de Enfermagem, Téc. em Meio Ambiente, Técnico em Segurança de Trabalho. A Medicina fragmentou-se, substituindo em parte o Clínico Geral. Por exemplo, na Ortopedia existe o médico especialista somente
em cabeça e pescoço, ombro ou joelho. Na
odontologia existe o ortodontista ou bucomaxilofacial. Vão surgindo de acordo
com as necessidades do mercado e se adaptando à tecnologia.
Com todo esse avanço, percebo
que à medida que o mundo das profissões abre o leque, e o governo abre cotas, o
povo não abre a cabeça, não “interage”, não reflete, devido à praticidade do
botão. Na verdade, não internaliza sonhos e valores. O que podemos esperar do
mundo digital?
Sinto que várias pessoas têm
conquistado título e dinheiro, mas vêm perdendo a essência, o respeito e os
sentimentos. O homem conquistou o espaço sideral, entretanto, precisa ganhar no
jogo da vida: dignidade, honestidade, fidelidade; superar a maldade e a
falsidade. Não basta ter lucro, mas ter hora para ler poesia, ouvir música, dar
abraço, aperto de mão e carinho à família e ao amigo, ter amor à profissão, e
reconhecer que a vida é efêmera. Então, finalizo dizendo que vejo frutos, mas sinto
falta das flores.
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