quinta-feira, 11 de setembro de 2014

FAMÍLIA DESENCONTRADA (POEMA DE MÁRIO QUINTANA)

O Verão é um senhor gordo, sentado na varanda,
suando em bicas e reclamando cerveja.

O Outono é um tio solteirão que mora lá em cima
no sótão e a toda hora protesta aos gritos: "Que barulho é este na escada?!"

O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina enterrada
até os olhos, a manta enrolada nos queixos e
sempre resmungando: "Eu não passo deste agosto,
eu não passo deste agosto..."

A Primavera, em contrapartida
- é ela quem salva a honra da família! -
é uma menininha pulando na corda cabelos ao vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro da terra que sobe do chão
o tapa do vento cara molhada!

Oh! a alegria do vento desgrenhando as árvores
revirando os pobres guarda-chuvas
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças 
sob as vaias do vento...

Enquanto 
- desafiando o vento, a chuva, desafiando tudo -
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida
a alegria da vida!


Mário Quintana. Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1999. In: Educação de Jovens e Adultos - 7º ano do Ensino Fundamental - Manual do Educador, Vol. 2, p. 43. 

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