Deus quer
otimismo
Procópio
acordava cedinho, abria a janela, exclamava: – Que dia maravilhoso! O
dia mais belo da minha vida!
Às
vezes, realmente, a manhã estava lindíssima, porém outras vezes a natureza
mostrava-se carrancuda. Procópio nem reparava. Sua exclamação podia variar de
forma, conservando a essência:
–
Estupendo! Sol glorioso! Delícia de vida!
Choveu
o mês inteiro e Procópio saudou as trinta e uma cordas d’água com a jovialidade
de sempre. Para ele não havia mau tempo. A família protestava
contra a sua disposição fagueira e inalterável. A população erguia preces ao
Senhor, rogando que parasse com o dilúvio. Um dia Procópio abriu a
janela e foi levado pelas águas. Ia exclamando:
–
Sublime! Agora é que sinto realmente a beleza do bom tempo integral! O azul é
de Sèvres! Chove ouro líquido! Sou feliz!
Os
outros, que não acreditavam nisto, submergiram, mas Procópio foi depositado na
crista de um pico mais alto que o da Neblina, onde faz sol para sempre.
Merecia.
(ANDRADE, Carlos Drummond de.
Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.)
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