domingo, 28 de dezembro de 2014

O TEMPO (LAURINDO RABELO)

Deus pede estrita conta do meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta:
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo!

Para ter minha conta feita a tempo,
Dado me foi bem tempo e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo fazer conta,
Quero hoje fazer conta e falta tempo.

Ó vós que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis esse tempo em passatempo,
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Mas, oh! se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta.
Não choravam, sem conta, o não ter tempo.

Fonte: SAMPAIO, Filgueira. Nova Seleta. Revista e acrescida. São Paulo: Editora do Brasil, 1967. 316 p. p 230

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