Aqui foi onde pela primeira vez, falei, andei, li, escrevi, brinquei de roda, nadei, cantei, orei o Pai Nosso, fiz amizades. Também fui à festa de aniversário, tempo bom! Era servido bolo, biscoito, guaraná, doce goiabada e pipoca feita em casa. Eu era feliz e não sabia, nada sofisticado. Sem falar que era raro tirar uma foto. Que tristeza!
Só fui conhecer brigadeiro, beijinho de coco, pão-de-queijo aos 13 anos. Foi também onde vi gato, cachorro, garça... ouvi rádio, assisti televisão, tive sarampo e catapora, vi palhaço das pernas de pau, feira, cacimba...
Passei 8 anos, depois mudamos de interior. Foi o suficiente para eu formar meu banco de dados na memória, e agora poder transpor para o papel e para o computador.
Retornei após 32 anos, já casada e com um filho. Estava nos meus planos criá-lo em contato com a natureza. Infelizmente, este não é mais aquele interior da minha infância. O lugar pacato agora é barulhento, com paredões.
Vinha sempre aqui, porém, tive um choque quando cheguei. Procurei as casas de palha, de taipa, as salinas, o manguezal. Algumas coisas estão diferentes, outras não existem mais.
Aos poucos os idosos estão se mudando; dessa vez para a eternidade, restando grandes recordações.
Mas, tudo mudou em função do petróleo: o cenário, a rotina, quantas vidas começaram ou terminaram por causa dessa riqueza encontrada em nosso solo! Há bênção em cada canto, no mar ou em terra, por meio da pesca, do sal e do petróleo.
Uma coisa eu peço: nunca mexam no cemitério. É o lugar que guarda mais histórias, a história que vi de perto sem precisar me contarem. A história que nunca se saberá, porque não divulgaram. Suas lápides, suas ruas, sua areia, os sobrenomes. Tudo isso é a Guamaré de ontem e de hoje.
Aqui é a minha pátria, lugar onde me sinto bem.
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