sexta-feira, 4 de julho de 2014

MINHAS MÃOS (TEXTO DE MARIA FRANCISCA DA SILVA, AUTORA SURDA/CEGA)

O que seria de mim sem as mãos
se eu não a vejo, não ouço?
Não tenho olfato nem paladar.
São minhas mãos que me levam
a ter contato com o mundo,
e por isso mesmo
cuido bem delas.
Elas me trazem notícias, expressões,
reações das pessoas.
Elas permitem pegar
nos rostinhos das crianças
para beijá-las e observá-las.
Como eu gostaria de ser poeta
ao menos por uns momentos
pra poder exaltar
a importância das minhas mãos.
Imagino às vezes
que elas estejam conversando
a mão direita dizendo:
Trabalho sem descanso
dia e noite...
Minha dona não vê
e eu substituo seus olhos.
Quando ela caminha
vou adiante para preveni-la
de um obstáculo
para lhe mostrar um caminho...
Estou sempre pronta para guiá-la
E quando ela quer perceber as pessoas
se estão alegres ou tristes
se são feias ou bonitas
ou se quer perceber a doçura de uma
criança,
sou eu quem leva a elas essas mensagens...
E a esquerda responde
Através de mim
ela toma conhecimento
de tudo o que se passa
conversa com os amigos
com os parentes e com todos aqui
que tem a vontade
para aprender o alfabeto manual.
Através de mim
que sou seus ouvidos
ela pode sentir a vibração do violão
e sua melodia
enquanto seu amigo Celso
toca para ela.

Diz a direita
Sou eu quem leva à sua boca
o alimento...
quando ela está triste
e deixa suas lágrimas correrem
Sou eu quem
corro a enxugar o seu rosto
Quando ela sente alguma dor
vou ao ponto certo para indicá-la.

Diz a esquerda
Sou eu quem lhe transmite tudo
trabalho ativamente
as pessoas me sacodem muito
e preciso estar corrigindo
a posição em que elas me colocam.
Recebo as letras do alfabeto
e às vezes me canso porque
alguns correm exageradamente.
Outros são lentos demais
Mas sempre dou conta do recado, mana.



Fonte:Compartilhado no Facebook pela Senhora Joana C. M. de Albuquerque.

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