quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MÃOS DADAS (POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

(CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Teresa Cochar. Português Linguagens - 7.ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2010 Vol. 3 p. 257)

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