quinta-feira, 19 de março de 2015

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO (POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

ANDRADE, Carlos Drummond de Andrade. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 73

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