Onde eu estava no período de
1964 a 1985? Meus pais se conhecendo; meu
pai ingressando no curso de medicina, vindo de Guamaré (na época era uma colônia de pescadores), enfrentando dificuldades na capital. Depois, nasci, fui ocupando carteiras
escolares, estudando em escola pública e da rede privada, mas a base mesmo (do
1º ao 4º ano), os chamados anos iniciais, eu estava em escola pública.
Naqueles anos, muitos jovens
estavam sendo perseguidos, torturados e mortos. Eram jovens que sonhavam,
queriam, lutavam e esperavam por mudanças no Brasil, exclusivamente no Brasil. Que exemplo de civismo, de coletivismo, de juventude! Estudávamos as disciplinas OSPB e Educação Moral e Cívica no
colégio e EPB na Universidade.
Nós ficávamos em pé quando
chegava uma visita na sala de aula, fazíamos fila para a merenda, cantávamos o hino
nacional com muito orgulho, e só possuíamos giz e quadro negro. Depois veio
quadro verde. Hoje, meus alunos têm quadro
branco, lápis pilot, data-show, internet, bibliotecas que chegam do Ministério
da Educação-MEC, professores especialistas no ensino fundamental e até com mestrado
no ensino médio, mas a educação caminha para a decadência, e juntamente vão os
valores sociais.
Onde e quando se ouvia dizer
que mataram um professor? Gente, que evolução tem nos acompanhado? Professor adoece,
tem síndrome, e não tem plano de saúde porque o dinheiro não dá para pagar um
bom plano. Para mim, o melhor plano
seria não ficar doente.
Vamos fazer alguma coisa
para salvar o professor. Sem este profissional as escolas fecham e se abrem
mais prisões. Na verdade, são gastos mais com presídios do que com escolas.
É tanta vantagem. Muitos
estudantes ganham fardamento, bolsa-família, material escolar. É preciso “estudar”
para fazer jus ao título de estudante. Falta o quê? Livros didáticos são pagos
às editoras com parte do meu imposto, com o suor do meu trabalho. Então, estou
alimentando a fera que me consome, devora, a cada dia. Estou pagando para
morrer, é isso?
Estou entregando os pontos. Fala-se tanto que
os militares foram ruins, e eu sei disso. Por um lado, não podemos negar a
crueldade da repressão militar, mas a disciplina faz falta. Então, traduzindo,
isso se chama punição. Porém, se eu não tenho como punir com as próprias mãos;
por favor, sistema, ouça meu apelo e mude esta situação.
Os gestores dizem que não
pode ter câmera na escola pública para não expor os alunos, mas quando o
professor morre, é exposta a família, a escola, a cidade, o país, e o que é
pior? Expor um aluno sem limites que quando não foi criado apanhando em casa,
acaba apanhando da polícia, lembrando que a câmera não mostra tudo.
Tem mais, aluno não diz bom
dia, boa tarde, boa noite, nem pede licença, já vai entrando na sala olhando as
mensagens do celular, e tem sempre uma resposta pronta para nos atingir, para
denegrir nossa imagem. Quando percebem a presença do professor em sala ou no
corredor, falam: diga aí, boy. Eu que procuro repassar o que aprendi com os
livros, com os professores e com a vida sou chamada de louca por ter decidido
ser intelectual.
Sinto que estou me
desperdiçando em sala de aula. Por favor, façam esta reflexão chegar à tia
Dilma, porque se ela foi militante na época que mencionei anteriormente, ela
pode me dar outro emprego (de preferência sentada, numa sala climatizada), pois
sei que vou morrer sendo professora, uma vez que foi a profissão que escolhi,
mas não sei se vou querer “estar” professora por muito tempo. De quantidade o
Brasil está cheio, mas de qualidade nós contamos nos dedos “das mãos”, ouviu?
O professor era alguém
importante...perfeito, respeitado, um gênio! Na adolescência cheguei a ter paixão platônica por um
professor; admirei muitos mestres e me tornei discípula.
Se eu voto e pago imposto,
tenho o direito de opinar, portanto, pergunto: de que lado você está? Do
professor, do aluno, da família ou do sistema? Por dentro ou por fora?
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