Caboclo Roceiro
Caboclo roceiro,
das plaga do Norte
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar
Ninguém
te oferece um feliz lenitivo
És rude e cativo, não tens liberdade
A roça é teu mundo e também tua escola
Teu braço é a mola que move a cidade
És rude e cativo, não tens liberdade
A roça é teu mundo e também tua escola
Teu braço é a mola que move a cidade
De noite
tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão
Tu
pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crides constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crides constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus
Tu és
nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu
Um pobre inocente no banco do réu
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu
O mestre
divino que é sábio profundo
Não faz neste mundo teu fardo infeliz
As tuas desgraças com tua desordem
Não nascem das ordens do eterno juiz
Não faz neste mundo teu fardo infeliz
As tuas desgraças com tua desordem
Não nascem das ordens do eterno juiz
A lua se
apaga sem ter empecilho,
O sol do seu brilho jamais te negou
Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
Tomaram-te a terra que Deus te entregou
O sol do seu brilho jamais te negou
Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
Tomaram-te a terra que Deus te entregou
De noite
tu vives na tua palhoça
De dia na roça, de enxada na mão
Caboclo roceiro, sem lar, sem abrigo,
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.
De dia na roça, de enxada na mão
Caboclo roceiro, sem lar, sem abrigo,
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.
Antônio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré) (1909-2002)
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Eu tiro o chapéu para este nordestino. Ele é um ícone da luta, da resistência e do sonho. Nele identifico minhas raízes com a sabedoria popular do "matuto", como a si mesmo se referia.
Este poema é uma demonstração do amor do poeta ao nordeste brasileiro. Ele narra a tradição desse povo sofrido, castigado pela seca, esquecido pelos políticos.
Seus poemas e poesias apresentam a mesma temática. Por exemplo:
O Poeta da Roça;
Cante lá que eu canto cá;
Vaca Estrela e Boi Fubá (tornou-se música gravada por Fagner);
Triste Partida (tornou-se música gravada por Luiz Gonzaga).
O Poeta da Roça;
Cante lá que eu canto cá;
Vaca Estrela e Boi Fubá (tornou-se música gravada por Fagner);
Triste Partida (tornou-se música gravada por Luiz Gonzaga).
Todo este repertório trago em minhas lembranças, porque a minha família sempre esteve ligada às raízes do nosso país, que sem a figura do "caboclo" não pode ser Brasil.
Ouvi muitos repentes de Patativa do Assaré em fita cassete, na década de 80, e sei que ele chegou a ser convidado por algumas Universidades Federais para ser entrevistado.
Era uma pessoa iluminada por Deus, porque o seu conhecimento não vinha dos livros, pois frequentou poucos dias a escola. Era tudo fruto de sua vivência no Nordeste.
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