Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele
passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão
aprendeu de
sol, de céu, e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu
para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no
internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu
melhor
o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra
esquecida
no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu
que as
árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu
irmão se
transformara, envaidecia-se quando era
nomeada para
o entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios
deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela
permanência em árvore porque fez amizade com
muitas
borboletas.
BARROS, Manoel de. Ensaios fotográficos. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
p. 394-395.
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