terça-feira, 26 de janeiro de 2016

IGUAL - DESIGUAL (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Eu desconfiava:
todas as  histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda 
são iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente  iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual  a nenhum outro homem, 
bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo ser humano é um estranho 
ímpar.

ANDRADE, Carlos Drummond de. In: INFANTE, Ulisses. Textos: Leituras e Escritas. Volume Único. 1ed. São Paulo: Editora Scipione, 2006. p. 61-62.

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